TEMA: Memória e Resistência


Memória. Elemento destoante dos registros da história oficial, apontando uma fortaleza de lembranças e experiências no combate às opressões e lutas de nossos povos. É raiz. É o reconhecimento de nossa identidade, de nosso lugar nas lutas. É importante não confundir Memória com História. Na medida que o historicismo propõe um recorte pautado nos registros textuais e imagéticos e reconhecendo que os meios de produção da notícia e dos registros são dominados pelas classes com alto poderio econômico, é a memória fincada no conceito do materialismo histórico proposto pelo filósofo alemão Walter Benjamin que aponta a outro ângulo dos acontecimentos.

A versão dos pobres, oprimidos, excluídos e degredados por um sistema desigual, explorador e que se enraíza na disputa entre sujeitos, é, portanto, a ótica das narrativas que nos cabe maior atenção e zelo. Nessa perspectiva, se a história oficial é o relato de vitórias das classes dominantes, como o agronegócio, são  as lembranças contadas por camponeses sobre a resistência das/os assentadas/os, por exemplo, que nos interessam e fundamentam nosso enfrentamento diário e constante ao Capitalismo e aos governos repressores, intransigentes e que violam direitos duramente reivindicados pelos setores oprimidos e marginalizados.

A medida que engrenamos nossas memórias e reconhecemos nosso lugar na sociedade, acionamos mecanismos para que as repressões não regressem jamais. Com esse olhar, a jornalista alemã e militante da União Socialista Alemã de Estudantes Ulrike Meinhof declara: Protesto é quando eu digo que algo me incomoda. Resistência é quando eu asseguro que aquilo que me incomoda nunca mais acontecerá”. Por isso, seguimos nas lutas à esquerda frente às contradições do capitalismo  nos processos ainda não-superados - como o racismo - e seguimos garantindo que nenhum recuo seja dado - como o combate às medidas que precarizam e privatizam a educação.

Lembrar é resistir.
Lembrar do massacre dos povos originários. Lembrar da emboscada na terra-mãe, das senzalas, da subida aos morros, do racismo, da criminalização radicada pelo sistema. Lembrar das violações impostas pelo patriarcado que atravessam tempos históricos, dos direitos suprimidos, do silenciamento, do machismo, dos abusos e da sexualização e imposição de padrões estéticos. Lembrar das pressões que regulam nossos corpos, da lgbtfobia, das violências, da negação do direito à família, da negação à educação. Lembrar da marginalização. Lembrar das torturas, da censura, dos exterminados, dos perseguidos, dos delatados e dos delatores. Lembrar da exclusão social, do cabresto político, da desigualdade social e da pobreza.

É resistir porque se cunha em nossa identidade.